sábado, 26 de janeiro de 2008

pita Ten


Impróprio para diabéticos. Esta é uma frase que se poderia utilizar para descrever "Pita Ten" - uma série de 2002 com 26 episódios, criada por Koge Donbo ("Digi Charat") e produzida pelos estúdios Madhouse. No seguimento de uma tendência que se tem verificado no mundo do anime e manga dos últimos anos, "Pita Ten" é um título que pertence ao sub-género "Moe". Esta designação provém do nome da personagem Tomoe Hotaru (a Sailor Saturn de "Sailor Moon"), e designa títulos em que o fan-service é proporcionando através da colocação das personagens femininas nas situações mais inocentes, adoráveis e submissivas que se possa imaginar. É óbvio o contraste com a moda do final da década de 80 e princípio de 90, em que o fan-service era de uma natureza bastante diferente. Esta nova tendência reflecte possivelmente o completar de um ciclo no que diz respeito aos gostos masculinos em relação ao sexo oposto - as preferências dos jovens japoneses parecem ter balançado da adolescente precocemente voluptuosa para a rapariga ingénua, dócil e infantilizada - talvez uma reacção à emancipação feminina que, apesar de tardia, tem atingido em força o Japão. É claro que a este factor, soma-se a vantagem dos produtos assim produzidos poderem ter também como alvo os públicos mais jovens, que já em "Card Captor Sakura" (uma série com um teor semelhante a "Pita Ten") tinham tido a oportunidade de se identificarem mais de perto com os protagonistas principais, crianças com idades entre os 9 e 12 anos. "Pita Ten" é o diminutivo da expressão japonesa "Pitari Tenshi", que significa "Anjo Pendura". A série conta a história de Kotarou, um menino de 10 anos, orfão de mãe, que descobre um dia ter uma vizinha inesperada: um anjo chamado Misha. Ela veio à Terra para completar o seu treino de anjo - mas desde logo se verifica que é o anjo mais desastrado e cabeça-no-ar alguma vez visto. Apesar de tudo, Misha é toda boas intenções, e oferece a si própria a missão de proteger Kotarou... por vezes contra a vontade dele, que a acha pegajosa e muitas vezes inconveniente. A somar à confusão, surge Shia, uma aspirante a demónio que está na Terra com um objectivo semelhante a Misha. Mas ao contrário desta, Shia deve fazer o máximo de más acções para passar o exame de demónio, e vem acompanhada de Nya, um gatinho demoníaco que a aconselha e que tira gozo de tudo quanto é caos e perturbação. Porém, Shia é assaz incompetente como demónio: ela não vê o gozo de praticar más acções e prefere ser uma dócil e simpática dona de casa. Acaba assim por partilhar o apartamento com Misha, o que conduz ao paradoxo de um anjo e um demónio a dormirem sobre o mesmo tecto... Juntando ao elenco alguns colegas de Kotarou, está feita a receita para uma autêntica injecção de sacarina em forma animada, não recomendável de todo a quem tenha uma aversão a tudo o que é "kawaii". Tecnicamente, o anime nunca sai da mediania e não ganhará fãs à conta de efeitos especiais extraordinários. A arte é competente, embora inferior à existente no manga de onde foi adaptado. Os personagens são cativantes e enternecedores, mas a história tende a arrastar-se por intermináveis episódios de enchimento. Apesar dos seus defeitos, o crítico não hesita em recomendar "Pita Ten" a todos os que tenham gostado de "Card Captor Sakura" e "Tenshi ni Narumon", ou a quaisquer pessoas que gostem de coisas bem docinhas. A quem conseguir encontrar, recomenda-se ainda mais a obtenção da manga original, estando disponíveis scanlations dos primeiros capítulos, e sendo provável a importação para a Europa por parte de uma das editoras francesas da especialidade.

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